Em vendas, uma das ferramentas úteis que mais gosto de utilizar em meu planejamento empresarial é a famosa Curva ABC. Esta ferramenta é baseada no Princípio de Pareto, o qual foi sugerido por Joseph M. Juran. O nome dado a este princípio é em referência ao economista italiano Vilfredo Pareto; no século XIX, Pareto desenvolveu um estudo sobre renda e riqueza, observando que em somente 20% da população concentrava-se 80% da riqueza mundial.
Para começarmos a entender melhor o funcionamento desta ferramenta, vamos primeiramente compreender este princípio: sua ideia primordial nos diz que 80% das consequências surgem de 20% das causas, por esse motivo, também é conhecido como “Princípio 80-20”.
Isto posto, podemos abordar a Curva ABC. Trata-se de uma ferramenta de classificação de dados estatísticos, ou seja, é útil para a separação de itens de grande importância, que representam uma parcela menor. Deste modo, é possível utilizarmos esta ferramenta por toda organização e em várias etapas dos processos e departamentos.
Quando digo que se trata de uma ferramenta muito importante e de grande valia em vendas, é justamente porque, dentro de um determinado período de tempo e em uma primeira análise, já é possível descobrir através de valores estatísticos – sejam de Vendas ou de Faturamento – quais são nossos clientes top (“A”), os medianos (“B”) e os de possível baixo potencial (“C”).
Com um exemplo, talvez fique mais fácil explicar, então vamos a ele: imagine um universo de 15 clientes (a quantidade pode variar de acordo com sua necessidade específica, podendo ser 15, 100, 500, etc.); para um melhor entendimento, utilizaremos abaixo valores empíricos. Como primeiro passo, em uma tabela do editor de planilhas Excel, preenchas as células com os dados dos clientes e com os seus respectivos valores de faturamento (ou de vendas, se preferir). Após o término do preenchimento, estabeleça os itens por ordem decrescente de faturamento, conforme exemplo abaixo:
# | Clientes | Faturamento em R$ |
1 | Cliente A | 1800 |
2 | Cliente B | 1200 |
3 | Cliente C | 1000 |
4 | Cliente D | 200 |
5 | Cliente E | 150 |
6 | Cliente F | 100 |
7 | Cliente G | 95 |
8 | Cliente H | 90 |
9 | Cliente I | 83 |
10 | Cliente J | 80 |
11 | Cliente K | 78 |
12 | Cliente L | 75 |
13 | Cliente M | 5 |
14 | Cliente N | 3 |
15 | Cliente O | 1 |
Feito isso, elabore uma tabela conforme exemplo dado abaixo. Deste modo, teremos 15 clientes e seus respectivos valores de faturamento.
Você se lembra do início do artigo, quando comentamos que o Princípio de Pareto nos diz que 80% das consequências surgem de 20% das causas? Logo… aplicando o método da Curva ABC, teremos o seguinte:
# | Clientes | Faturamento em R$ | Acumulado% |
1 | Cliente A | 1800 | 36,3% |
2 | Cliente B | 1200 | 60,5% |
3 | Cliente C | 1000 | 80,6% |
4 | Cliente D | 200 | 84,7% |
5 | Cliente E | 150 | 87,7% |
6 | Cliente F | 100 | 89,7% |
7 | Cliente G | 95 | 91,6% |
8 | Cliente H | 90 | 93,4% |
9 | Cliente I | 83 | 95,1% |
10 | Cliente J | 80 | 96,7% |
11 | Cliente K | 78 | 98,3% |
12 | Cliente L | 75 | 99,8% |
13 | Cliente M | 5 | 99,9% |
14 | Cliente N | 3 | 100,0% |
15 | Cliente O | 1 | 100,0% |
Perceba o quanto esta ferramenta pode ser útil em Vendas, como uma primeira análise! Antes vamos fazer uma ressalva, estamos aqui com um exemplo de apenas 15 clientes e com valores baixos de faturamento. Agora imagine o inverso, valores altos de faturamento e também uma quantidade alta de clientes, obteríamos uma tabela bem mais completa e de melhor interpretação.
Ao executarmos um planejamento eficiente e de alta performance da carteira de clientes, devemos levar em consideração que não será possível prestar o mesmo serviço para todos os clientes. Sendo assim, ao utilizarmos esta ferramenta, conseguimos de forma clara visualizar no gráfico que, neste exemplo específico, 3 clientes são de vital importância para o negócio. São para estes clientes que tenho que dispensar o melhor tratamento possível, ou seja, o melhor nível de serviço disponível.
Na sequência, é possível vermos que 9 clientes estão classificados como “B”, ou seja, representam apenas 15% do faturamento total e que outros 3 clientes foram classificados como sendo classe “C”, ou seja, representam apenas os outros 5% restantes.
Calma. Não estou aqui apregoando que você deva atender somente os clientes classificados como “A”; quero deixar bem claro que esta ferramenta auxilia na tomada de decisões e de ações que devemos adotar para cada nível de cliente e também onde devemos aplicar mais – ou menos – nossos esforços, concentrando-se em determinadas tarefas. Sendo assim, devemos pensar da seguinte forma: o que devo fazer para que um cliente “B” vire um cliente “A”, ou meu cliente “C” se torne um “B”?
Lembre-se que outros fatores influenciam a tomada de decisão de como classificar seu cliente, e é exatamente nesta hora que uma pesquisa em campo do cliente, feita de modo detalhado, será de muita valia para entender seu real potencial. Se você é responsável por uma equipe de Vendas, ouça o que seus vendedores tem a lhe dizer sobre suas respectivas carteiras de clientes; antes, certifique-se de que eles realmente visitam os clientes.
Esta ferramenta te dará um norte de como começar a classificar seus clientes, principalmente, quando eles são números, pois lembre-se que uns requerem mais atenção que outros e buscar este equilíbrio é fundamental para que você possa gerir melhor seus esforços.
Agora, mãos à obra, faça você mesmo a sua Curva ABC e surpreenda-se com o resultado!